7 de nov. de 2010

LANÇAI A REDE


Mateus 13:47-51; Romanos 2:5-11
INTRODUÇÃO
A parábola da Grande Rede é a sétima registrada no capítulo 13 de Mateus, a qual traz-nos à mente a parábola do joio e do trigo, parecendo ser mesmo uma repetição do mesmo ensino, mas há nuanças que nos revelam um ensino diverso. Aqui Jesus está enfatizando o papel que deve ser desempenhado pela Igreja no trabalho da evangelização. Nesta parábola da grande rede, Jesus usa uma linguagem mais conhecida dos pescadores, dos homens que viviam às margens do mar da Galiléia, para nos falar a respeito da convivência entre bons e maus até o instante do julgamento final, o que, aliás, numa linguagem mais conhecida dos homens do campo, dos agricultores, já havia falado na parábola do joio e do trigo, mais uma vez nos mostrando a importância que dava aos ouvintes e que o evangelho deve ter uma mensagem multiforme, ainda que única, algo que vimos na lição anterior, quando estudamos a parábola do tesouro escondido (com uma linguagem voltada aos homens do campo). Esta parábola é parcialmente interpretada por Jesus, que afirma que serão os anjos quem farão a separação dos bons e maus peixes, destinando os peixes maus para a fornalha de fogo na consumação dos séculos.(Mt.13:47-50).
É importante aqui observar que, ao contrário da parábola do joio e do trigo, a parábola da grande rede mostra-nos bem que se trata de existência de maus e de bons na própria comunidade social formada pelo evangelho, ou seja, trata-se da presença de maus e de bons no meio do povo evangélico, algo que é costumeiramente aliado à parábola do joio e do trigo, mas que vimos que não é bem o que aquela parábola diz. Aqui, porém, como se trata apenas dos peixes apanhados pela rede, temos de reconhecer que, nesta parábola, Jesus se dirige especificamente à comunidade social evangélica.
Há, pois, uma grande diferença entre Igreja enquanto organização social, enquanto grupo social e Igreja enquanto corpo de Cristo. A Igreja que é grupo social é uma comunidade formada por homens, homens que responderam ao chamado do evangelho e que, por causa da pregação do evangelho, mudaram de atitudes, de atividades e de modo de viver diante da sociedade. No entanto, no meio desta comunidade, diz-nos o Senhor, há aqueles que, além de mudanças superficiais e aparentes, também se converteram, ou seja, passaram a servir a Deus de verdade, santificaram-se, ou seja, separaram-se do pecado e, assim, se tornaram em novas criaturas, passando a ser peixes bons. Mas, no meio destes, também há os peixes ruins, os quais, ao serem inspecionados, serão rejeitados e, assim, serão devolvidos ao mar, onde terão o mesmo destino daqueles que não foram sequer apanhados. Já a Igreja corpo de Cristo, é aquela formada pelos peixes bons, é aquela que, em todas as épocas desta dispensação da graça, serviu a Deus, independentemente de raça, nação, denominação religiosa(Ap.5:9), a qual se reunirá com o Senhor para sempre, no dia do arrebatamento da Igreja, aos quais se juntarão os demais santos, para viverem eternamente com Deus na Nova Jerusalém.
Nesta Parábola, cinco elementos se destacam: a Rede, o Mar, os Pescadores, os Peixes e os Anjos.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Não basta ser um peixe, e estar na rede; é preciso ser um peixe bom - “Igualmente, o Reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar e que apanha toda qualidade de peixe”. Nesta presente Dispensação da Graça o Evangelho representa esta Rede. Conforme veremos no tópico II o mar significa os povos, as gentes, as nações que vivem sem paz, em completa agitação – “...os ímpios são como o mar bravo que não se pode aquietar e cujas águas lançam de si a lama e lodo. Os ímpios, diz o meu Deus, não têm paz”(Isaias 57:20-21). A Rede foi lançada nesse mar e pegou uma grande quantidade de peixes, dividindo os peixes do mar em duas espécies: os peixes que estão na Rede e os peixes que estão fora da Rede. Assim, numa linguagem popular se diz que o mundo está dividido em dois grandes grupos “religiosos: cristãos e não cristãos. Sendo que “cristãos” são os “peixes” que foram apanhados pela Rede e que, hoje, são mais conhecidos pela denominação de Evangélicos. Todavia, conforme o Senhor Jesus afirmou, a Rede “apanha toda qualidade de peixes”. Isto leva-nos à dedução de que existem duas qualidades de evangélicos: evangélicos salvos o chamado “peixe bom”, e “evangélicos” não salvos, o chamado “peixe ruim”. Então, não basta ser peixe e estar na rede; os peixes ruins também estão. É preciso estar na Rede, mas, sendo um “peixe bom”.
A Religião Evangélica não muda a natureza do “peixe” - O Senhor Jesus, falando com Nicodemos, um mestre em Israel, um homem religioso, não fez qualquer menção ao fato dele ter que mudar de Religião. Se religião, seja qual for, fosse a solução para os problemas do homem, se ela pudesse operar esta transformação na natureza fazendo com que “peixes ruins” fossem transformados em “peixes bons”, certamente que o Senhor Jesus não precisaria ter vindo a este mundo. Quando Ele veio o que mais havia na terra era religião. Consta que só na Grécia havia cerca de dez mil deuses. O Império Romano era tolerante com todas as Religiões, permitindo plena liberdade religiosa a todos os povos e estabelecendo, apenas, uma condição: que adorassem, ou prestassem culto, também, ao seu Imperador. A situação não mudou. Muitos, hoje, entendem que ser evangélico significa pertencer à “Religião Evangélica”. E, ao que parece, muitos falsos pregadores estão induzindo os homens ao erro. Não pregam aquele Evangelho que o Apóstolo Paulo pregou, e acerca do qual, disse: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê...”(Rm 1:16). Esses falsos pregadores estão fazendo uso indevido das promessas Bíblicas elevando as pessoas a mudarem para “a religião evangélica”. Nós diríamos, no entanto, que a “religião evangélica” é tão boa quanto a religião católica, quanto ao judaísmo, quanto a religião muçulmana, quanto ao budismo, ao confucionismo, e tantas outras. Do ponto de vista humano todas as religiões são “boas”. Elas, todas elas, incluindo a chamada “religião evangélica”, só têm um defeito:: não levam ninguém para o Céu. Para o Céu só serão levados os “peixes bons”, ou seja os salvos, em Cristo. Só ele, o Senhor Jesus Cristo, pode mudar a velha natureza do “peixe ruim”, ou do homem sem Deus, dando-lhe uma nova natureza que o torna num “peixe bom”, conforme escreveu o apóstolo Paulo – “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”(II Co 5:17). Perceba que Paulo diz : “se alguém está em Cristo”, e não se alguém está na rede, porque a rede “apanha toda qualidade de peixe”. Não basta ser “peixe”, e estar na rede; é preciso estar na rede, mas, sendo um “peixe bom”. Hoje, ao que nos parece, está em moda mudar para a religião evangélica. Muita gente famosa está fazendo isto. Mudar é preciso, mas é necessário mudar de vida, e não mudar, apenas, de religião! Estar na rede, ser “peixe”, mas, ser um peixe” bom” .
Não basta ser membro de uma Igreja evangélica, é preciso, também, ser membro da
Universal Assembléia e Igreja dos Primogênitos (Hb 12:23) - As Igrejas Evangélicas, em suas múltiplas denominações estão espalhadas por toda Terra, à semelhança dos Ramos do Pé de Mostarda que, se tornou “grande árvore”(Lc 13:19). Esta multiplicidade de igrejas recebe o nome de Igrejas Locais. A Igreja Local é, pois, uma comunidade de fiéis que se reúne num determinado lugar. É neste sentido, como Igrejas Locais, que a Bíblia Sagrada diz : “...as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia, e Samaria tinham paz e eram edificadas; e se multiplicavam...”(Atos 9:31). Assim, esta comunidade chamada de Igreja, é o que denominamos de Igreja Visível. Teologicamente chamada de Igreja Militante. Torna-se membro desta Igreja através do Batismo nas Águas. Isto dá à pessoa que foi batizada o direito de receber um Cartão de Membro dessa referida Igreja e, também, de ter o seu nome inscrito no seu Rol de Membros. Contudo, como se sabe, ser batizado nas águas não significa ser salvo. Assim, a Igreja Local é como a rede que “apanha toda qualidade de peixes”. Nela é possível coexistir “peixes bons e ruins”, “virgens prudentes e loucas”, “trigo e joio”, ou seja, cristãos verdadeiros e falsos cristãos. Portanto, não basta ser membro de uma Igreja Evangélica Local, seja qual for o seu nome. O Importante é ser Membro da Igreja Universal - “Mas chegastes ao Monte de Sião, é a cidade do Deus Vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos, à universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus...”(Hb 12:23). Esta é a Igreja da qual falou o Senhor Jesus Cristo, quando apontando para si mesmo, disse: “...sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”(Mt 16:18). O Senhor Jesus não lhe deu um nome; chamou-a de “a minha Igreja”. Pela Bíblia sabemos que ela é a Igreja Invisível, pois, não pode ser identificada pelos olhos do homem. Ela é formada pelo corpo místico de Cristo e está espalhada por toda a Terra. Ela é a Igreja que será arrebatada no dia da vinda de Jesus. Só se torna membro desta Igreja através do Novo Nascimento. Por isto ela é Invisível, porque o Novo Nascimento, ou Regeneração é algo que acontece dentro do homem, é uma transformação espiritual que somente Deus pode atestar. Pelo novo nascimento o “peixe ruim” é transformado em “peixe bom”. Isto só o Senhor Jesus pode fazer, ninguém mais! Assim, na Igreja do Senhor Jesus, chamada de Igreja Invisível, não existe “peixe ruim”, nem “virgem louca”, nem joio. Ela é, segundo escreveu Paulo, uma “...Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”(Efésios 5:27). Esta Igreja não confere cartão de membro, nem possui um rol de membros, aqui na Terra. Os nomes de seus membros estão escritos no céu – “... alegrai-vos, antes, por estar o vosso nome escrito nos céus”(Lc 10:20).
I – A REDE(Mt 13:47)
Jesus afirma que o reino de Deus é semelhante a uma rede lançada ao mar e que apanha toda a qualidade de peixes. Ao se referir à rede, Jesus nos fala a respeito da “grande rede” ou “rede tipo seine”, que era a maior das redes utilizadas pelos pescadores do Mar da Galiléia naquela época, como nos dá conta a palavra do texto original grego, “sagene”, uma “rede de arrastão”, para usarmos de linguagem conhecida dos nossos pescadores e que se encontra nas Escrituras em Ez.26:5; Hc.1:15 e Lc.5:4.
A “grande rede” é aquilo que deve ser usado para que os homens sejam pescados, aquilo que deve ser levado ao mar, que, como veremos, é o símbolo das nações. Ora, o que deve ser levado ao mundo é o Evangelho (Mc.16:15), que, afinal de contas, era o que estava sendo levado por Jesus ao seu povo (Mc.1:15).
1. A malha dessa rede - Esta rede tinha cerca de três metros de largura e vários metros de comprimento. Ela ficava suspensa na água como uma cerca, sendo mantida flutuando por meio de rolhas, e pedras eram colocadas nas beiradas para mantê-la na vertical. Ela recolhia todos os tipos de peixes. A sua malha é capaz de recolher toda espécie de peixes: bons e ruins, úteis e inúteis.
As redes, portanto, exigiam o trabalho de muitos homens, de um grupo de homens, a mostrar, assim, que a evangelização é o trabalho de um grupo, de um povo e não apenas de uma pessoa. O Evangelho, portanto, é algo que deve ser pregado pela Igreja, é uma tarefa de toda esta “assembléia reunida para fora do mundo e do pecado” (“ekklesia”). A evangelização é, pois, tarefa de toda a Igreja, de todo o grupo. Jesus chamou os discípulos para serem “pescadores de homens” e, para tanto, deveriam usar a rede, que é o Evangelho, a “grande rede”, que deve ser levada ao mar por todos os pescadores, por todos os chamados por Cristo. Por isso, na chamada “Grande Comissão”, Jesus não excluiu qualquer dos seus servos. “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura”, disse o Senhor, dirigindo-se a todos aqueles que ali se encontravam vendo-O ressurreto (que Paulo diz serem quase quinhentos irmãos).
O Evangelho é uma rede de pesca apta para uso, o que significa afirmar que o Evangelho não tem rasgos, não tem furos, é íntegro e está pronto a resgatar as vidas humanas. As redes eram fornecidas aos pescadores, que não se preocupavam, na hora da pesca, em procurar se as redes estavam, ou não, em condições de uso. As redes, uma vez entregues, eram lançadas ao mar, pelo grupo dos pescadores. Jesus disse que o reino de Deus é como uma rede que é lançada ao mar, indicando, assim, que não cabe aos filhos do reino discutirem a qualidade da rede ou analisarem se a rede tem, ou não rupturas ou falhas. O papel do filho do reino é lançar a rede ao mar, é pregar o Evangelho, não discutir o Evangelho. Muitos, na atualidade, ao em vez de pregarem o Evangelho, ficam a discuti-lo, tentam enfatizar aspectos peculiares de sua compreensão do Evangelho, usos e costumes que são seguidos aqui e acolá. Via de regra, preferem sempre se encontrar com alguém de uma denominação diferente da sua para iniciar os debates, as polêmicas em torno destas “rupturas”, destas “falhas” e chamam a isso de “evangelização”. Analisam a rede ao invés de lançá-la ao mar. O reino de Deus, porém, ensina-nos o Senhor nesta parábola, é semelhante à grande rede que se lança ao mar. Deixemos, portanto, de lado estas filigranas e lancemos a rede ao mar.
A rede não teria qualquer valor se, embora fosse de exímia qualidade e de apresentação impecável, não pudesse apanhar os peixes. Os peixes são o alvo e devemos nos empenhar ao máximo para que venhamos apanhá-los.
2. A rede não discrimina os peixes - A rede foi feita para apanhar toda espécie de peixes. Não há pessoa, não há grupo, não há etnia, não há tipo de gente que esteja excluída da mensagem do Evangelho. O Evangelho é universal, é uma mensagem endereçada a todos os homens e, por isso, todos devem ser atingidos por esta pregação.
Quando tomamos consciência de que a rede deve apanhar toda espécie de peixes, passamos a nos empenhar a ajudar a evangelização em todos os sentidos, não importando sequer se é, ou não, a nossa comunidade ou o nosso grupo que está fazendo o trabalho de evangelismo. Se a rede, que é o Evangelho genuíno e bíblico, está sendo lançada ao mar, devemos colaborar na medida em que algo for requerido de nós da parte de nosso Deus, conforme a nossa vocação. Muitos, nos nossos dias, têm sido incompreendidos pelos irmãos, que se recusam a ajudar trabalhos sinceros e verdadeiros de evangelização, por discriminarem este ou aquele tipo de pessoas que precisam ser alcançados. Não podemos fazer acepção de pessoas e não devemos recriminar aqueles que, chamados por Deus, vão lançar a rede para apanhar este tipo de peixe que repugnamos. A Bíblia diz que Deus amou o mundo inteiro, não parte dele. Não admitamos a discriminação e o preconceito em nosso meio, pois a rede foi lançada e apanhou toda a espécie de peixes.
II – O MAR( Mt 13:47)
O mar também não teve seu significado registrado no capítulo 13 de Mateus, mas, quando verificamos o significado do mar nos textos simbólicos das Escrituras, logo compreendemos que se trata de uma ilustração a respeito dos povos do mundo, a respeito das nações. Em Is.23:11, é dito que o Senhor estendeu sua mão sobre o mar e os reinos se turbaram, ou seja, o mar confunde-se com os reinos do mundo. Em Is 57:20, ímpios são comparados ao mar bravo que não se aquieta e cujas águas lançam de si lama e lodo. Em Dn.7:3, o mar simboliza o conjunto das nações, de onde se levanta cada um dos grandes impérios mundiais, o que também é reproduzido no livro do Apocalipse, ao se descrever o surgimento do Anticristo (Ap.13:1). Por fim, em Ap.17:10, um grande volume de águas é identificado como sendo as nações que estarão sob o domínio da grande prostituta durante a Grande Tribulação.
1. O mar representa a humanidade - O mar, aqui, portanto, é o mundo, assim como era o campo nas parábolas do semeador e do joio e do trigo, o que é de se entender se verificarmos que esta parábola é voltada, principalmente, a pessoas afetas à vida marítima. O mar é o conjunto das nações, o mundo e aqueles que nele habitam, que pertencem ao Senhor (Sl.24:1), mas que estão inquietos, em virtude do pecado e da impiedade (Is.57:20). No mar, não há meio de salvação, não há como as pessoas saírem da inquietação e da intranqüilidade que caracteriza o mar. Isto significa que a salvação não é resultado de um pertencimento a uma nação, a um povo específico. Não existe um povo escolhido que seja melhor do que os outros. Nem mesmo Israel, que é propriedade peculiar de Deus (Ex.19:5), concede salvação a seus nacionais. O orgulho judaico era tanto que, certa feita, invocaram a Jesus a sua condição de descendência de Abraão para se dizerem livres (Jo.8:37), mas o Senhor os reprovou, dizendo que eram, apesar de israelitas e descendentes biológicos de Abraão, filhos do diabo (Jo.8:44). Muitos, hoje em dia, cometem o mesmo erro. Por pertencerem a esta ou aquela denominação religiosa, acham-se salvos e garantidos na eternidade, mas, infelizmente, são apenas outros filhos do inimigo, outros que, por desobedecerem a Deus, não têm parte com Jesus. Tomemos cuidado, olhemos por nós mesmos e não nos deixemos iludir !
III – OS PESCADAORES(Mt 13:48)
Outro elemento desta parábola, ainda que implícito, é formado pelos pescadores. Embora Jesus não os mencione expressamente, é lógico que a rede levada ao mar, lançada ao mar e trazida à praia é realizada pelos pescadores, os quais deveriam ser os principais ouvintes da sua parábola, quando ela foi proferida (O contexto afirma que Jesus proferiu esta parábola apenas aos discípulos em sua casa – Mt.13:36 – o que nos permite inferir que se encontrava em Cafarnaum, uma das cidades às margens do mar da Galiléia, onde ficava sua casa – cfr. Mt.4:13; Mc.2:1).
Os pescadores não são apenas os apóstolos, o grupo mais próximo a Jesus e que foi preparado para liderar a primeira geração da Igreja, mas, sim, todos aqueles que se convertessem a Cristo.
A vida dos pescadores dependia de eles saberem bem manejar a rede, pois dali tiravam o seu sustento. Assim, também, a vida dos discípulos de Cristo está em saberem manejar a Palavra de Deus e pregarem, com atos e palavras, o Evangelho. A Igreja, que somos nós, somente mostrará a sua vida se estiver evangelizando o mundo, se estiver lançando a rede ao mar. Um grupo que não evangeliza, um grupo que não vai ao encontro dos homens com a mensagem do Evangelho, pode ser um grupo social qualquer, mas nunca será uma igreja para os padrões divinos. Alguém aceitaria um hospital que não se destinasse a cuidar de doentes? Ou, então, um presídio que não aceitasse presos? Ou, ainda, um hotel que se recusasse a receber hóspedes? Todavia, há quem ache normal uma igreja que não tenha como propósito a salvação de almas…
O objetivo dos pescadores era apanhar peixes no mar e, para isto, usavam a rede. De igual forma, o objetivo da Igreja deve ser a evangelização do mundo, a pregação do evangelho e, para isso, devem usar a Palavra de Deus. Muitos têm perdido, na atualidade, o propósito da Igreja, lançam suas comunidades em mil e uma atividades, fazem mil e uma programações e festividades, esquecendo-se de que a Igreja existe para ganhar almas para o reino de Deus e para aperfeiçoar os santos. O número de peixes no mar está aumentando. A rede continua a mesma, apta a apanhar os peixes de toda qualidade, mas os pescadores são cada vez em menor número. Este é o quadro triste e duro dos nossos dias. Não nos deixemos impressionar com os números absolutos da membresia das igrejas ditas evangélicas. Muitas aglomerações são feitas sem que tenha sido usada a rede, o que, de pronto, retira destas multidões qualquer significado para o reino de Deus.
IV – OS PEIXES(Mt 13:47)
1. Os peixes que caem na rede – Foi dito no item 2 do tópico I, que a rede foi feita para apanhar toda espécie de peixes. Não há pessoa, não há grupo, não há etnia, não há tipo de gente que esteja excluída da mensagem do Evangelho. O texto sagrado diz que foram alcançados os peixes de todas as qualidades, ou seja, não houve nenhuma espécie que ficasse de fora. As igrejas locais, portanto, não podem deixar de ser sensíveis ao mar, ou seja, devem saber exatamente quais são os peixes que precisam ser apanhados.
A rede ficava suspensa na água como uma cerca, flutuando graças ao uso de rolhas e que se mantinha na vertical graças a pedras que eram colocas nas beiradas. Um barco fazia um círculo com a rede, os dois barcos a suspendiam e faziam uma varredura em direção à praia e, neste processo, todos os peixes que estavam no caminho eram apanhados. Este processo indica-nos que o Evangelho é universal, ou seja, deve ser pregado a todos os homens, deve ser capaz de atingir a todos os seres humanos, como a rede atinge a todos os peixes que encontra pelo caminho pelo qual é levado em direção à praia pelos pescadores. Jesus, na Grande Comissão, disse que o evangelho deveria ser pregado em todo o mundo, a toda a criatura. Aqui está o verdadeiro universalismo do Evangelho, o seu caráter eminentemente “católico” (a palavra “católico” significa universal em grego). A mensagem do Evangelho deve atingir todos os homens. Não pode haver discriminação, distinção, acepção ou qualquer forma de exclusão do Evangelho e a Igreja deve sempre lutar para que sejam mantidas condições na sociedade para que ela possa atingir a todos. Os peixes representam estes todos, enfim, os peixes são a humanidade, que vive perdida no mundo, que vive perdida no mar.
2. Os peixes bons e ruins - Não bastasse o fato de a rede apanhar toda a qualidade de peixes, Jesus, na continuidade da parábola, disse que a rede, apesar das muitas espécies existentes no mar da Galiléia, só apanhou dois tipos de peixes: os peixes bons e os peixes ruins. A primeira lição que temos é que o Evangelho, ou seja, a rede apanha tanto peixes bons quanto peixes ruins. O fato de ser apanhado pela rede e carregado em direção à praia não significa afirmar que as pessoas já estão salvas e já alcançaram a vida eterna. Ao contrário dos defensores da tese que “uma vez salvo, salvo para sempre”, a parábola ensina-nos, claramente, que os peixes que são apanhados pela rede, ou seja, aqueles que ouviram e foram tocados pela mensagem evangélica e mudaram a sua direção de vida, precisam ser peixes bons para que alcancem a eternidade.
Os peixes bons são, portanto, os filhos do reino, assim como o que foi semeado em boa semente, o trigo ajuntado no celeiro, a mostarda que foi colhida, o homem que comprou o campo e se tornou dono do tesouro. Os peixes bons chegam à praia, são recolhidos pelos anjos e postos em vasos, para permanecerem para sempre fora do mar. São os salvos, são os remidos, são os moradores da Nova Jerusalém. Já os peixes ruins são os filhos do maligno, assim como os que foram semeados nos terrenos da morte, como o joio que foi atado e lançado ao fogo, como as aves que estavam na mostarda, com aqueles que não acharam o Tesouro. Os peixes ruins, embora tenham sido apanhados pela rede, arrastados até a praia, quando lá chegaram, foram inspecionados e achados ruins, de má qualidade, tendo, então, como era costume naquele tempo, sido lançados fora, ou seja, jogados novamente no mar . De nada adianta pertencer ao grupo social reconhecido como igreja, de nada adianta apresentar-se como cristão em meio ao mundo, se o peixe não for bom. Embora aparentemente ele esteja caminhando para o reino de Deus, na verdade, na hora decisiva, ele será detectado como peixe ruim, como peixe que está fora dos parâmetros da lei do Senhor, como alguém que pratica a iniqüidade e, por isso, será lançado fora, será novamente jogado ao mar, onde perecerá juntamente com os que não foram apanhados.
V – OPAPEL DOS ANJOS NO FINAL DOS TEMPOS( Mt 13:49,50)
Esta parte da parábola é explicada pelo próprio Jesus, logo não cabe qualquer discussão com relação a sua autenticidade, haja vista que fora feita pelo próprio autor da parábola. Jesus diz que, assim como os pescadores se sentavam, depois de trazer os peixes para a praia, e separavam os peixes bons dos ruins, assim, no fim do mundo, os anjos sairiam e separariam os maus dentre os justos (Mt.13:48).
Em primeiro lugar, observemos que Jesus faz uma comparação entre o gesto comum dos pescadores de selecionarem os peixes com a ação que os anjos farão no fim do mundo. Assim, trata-se de uma comparação que Jesus faz, no ambiente da parábola, com uma ação que os anjos desencadearão quando estivermos no final da história humana, na ocasião do julgamento final, exatamente como já havia dito na explicação da parábola do joio e do trigo, onde também os seres angelicais são mencionados (Mt.13:40,41).
Em segundo lugar, vemos que os anjos são destacados tão somente para fazer a separação entre os peixes bons e os peixes ruins, ou seja, a atividade angelical se limita ao instante em que será feita a separação para a realização do julgamento. Na dispensação da graça, os anjos não têm qualquer outro trabalho senão o de ministrar a favor daqueles que hão de herdar a salvação (Hb.1:14). Enquanto a Igreja está neste mundo, cabe a ela a pregação do evangelho ao mundo, isto é, o lançamento da rede ao mar. Cabe, também, à Igreja, representada pelos pescadores, levar a rede até a praia [chegar à praia significa chegar ao fim do mundo, o fim da era, o fim da oportunidade de arrependimento para o homem]. Os anjos só ministram a favor dos crentes nesta dispensação, por ordem do Senhor, como também terão participação, a começar do arcanjo(I Ts.4:16), quando do arrebatamento da Igreja, participação absolutamente secundária, já que será o próprio Deus quem atuará neste instante sublime que tanto aguardamos.
Com o arrebatamento da Igreja, ela será substituída pelos 144.000 e pelas duas testemunhas na primeira parte da Grande Tribulação(Ap.11:1-10;14:1-5). Na segunda metade da Grande Tribulação, porém, diante da morte de todos os que aceitaram a Cristo (inclusive das duas testemunhas), Deus intervirá a favor do homem, mandando pregar o chamado evangelho eterno, por meio de um ser angelical(Ap.14:6,7). Depois virá o juízo correspondente à incredulidade dos que adoraram a besta e se iniciará o milênio, quando, então, Israel se tornará o reino sacerdotal planejado por Deus desde a sua escolha. Findo o milênio, com a rebelião final, acabará também a história humana e, então, os anjos serão chamados para fazer o recolhimento de todos os peixes bons e maus para o julgamento (Ap.20:12,13).
VI – CONCLUSÃO
E, estando cheia, a puxam para a praia e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora”(Mt 13:48). A Rede continua apanhando “toda qualidade de peixes”. O tempo de Deus ainda não terminou. A oportunidade continua sendo oferecida; a porta da Graça ainda está aberta. Uma das características da Rede é que ela apanha tudo. Isto pode significar que a oportunidade é oferecida, igualmente, a todos – “porque para com Deus, não há acepção de pessoas”(Rm 2:11). Deus, contudo, sabe quanto falta para que a Rede esteja cheia. Quando isto acontecer, então a Rede será puxada para a praia, e, então, haverá a separação entre os “peixes bons” e os “peixes ruins”. Estar dentro da Rede não significa estar no Corpo Místico de Cristo. Eles estão, e aqui continuarão juntos. Mas, na eternidade, certamente estarão separados, porque, quer o homem creia, ou não, salvação e condenação são duas verdades bíblicas! Somente aqueles que deixarem o mundo, que não se envolverem com as coisas desta vida terão a oportunidade de desfrutarem da vida eterna com o Senhor. “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (I Jo.2:15). “ Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.” (Jo.15:6).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD/Assembléia de Deus –Ministério Bela Vista/Fortaleza-CE.
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Bibliografia: Comentário Bíblico do Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco, Prof Antonio Sebastião da Silva; Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal.

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